segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

BRASIL WILD EXTREME - ABRIL/2008 - 500km

BRASIL WILD EXTREME - 500KM - BA

















O importante não é o destino e sim o caminho. Logo o caminho se torna o destino - Relato da equipe Microcamp Internacional.

Depois de seis dias (110 horas) e 400 km rodados, cruzamos a linha de chegada da Brasil Wild Extreme - O desafio das fronteiras. Passamos pelos sertões da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe em municípios escondidos aonde a terra arde.
Sinto as bolhas ainda frescas nos meus pés, junto com as unhas quebradas dos meus dedos dormentes. A mata contorcida da Caatinga que abraça e morde também deixou seu saldo de lembranças nos meus braços e pernas.Fica na cor da pele o retrato de uma experiência que tende a mudar a vida de quem absorve o ensinamento.

Em provas deste porte momentos de dor e alegria se misturam quase sem percebermos aonde começa um e termina o outro.A teia do mistério começa a ser tecida muito antes da largada.Mapas, Equipes, Estratégias.Caminhos pouco percorridos, como definiu o Major do Exército Nilton Diniz:“-A Caatinga é um dos lugares mais inapropriados para a espécie humana sobreviver...”As temperaturas chegam a 45º C, ou mais. Espinhos e Urtigas de alta abrasividade lado a lado como guardas bem armados impedindo a passagem de humanos, ou pelo menos marcando a passagem de quem se atreve...Solo de Areia Espessa e poucas fontes de água.

A região, castigada pela seca, contrasta com a abundância do Rio São Francisco, um oceano de água doce preso pelas estruturas da enormes barragens que surgem em todas as partes do rio, mudando seu curso, alterando sua rotina e humor, aprisionando a água como se fosse ouro líquido.

A largada mais pareceu um filme catástrofe. Atletas se debatendo entre botes infláveis, remos e lanchas da organização. Rodamoinhos e olhos esbugalhados.

Os atletas se dividiram entre natação e remo para se reencontrarem a duzentos metros da largada lá na frente.O reencontro foi surreal.Passada a loucura seguimos nós 70 km entre os Canions do Rio São Francisco. Contra o vento, fazendo força, deixando a adrenalina baixar.

Chegamos para um trekking de 60 km dividido em duas etapas. Na primeira metade meus pés já mostravam sinais do que seria a semana.Uma bolha generosa em cada sola. No pé esquerdo parecia um ovo frito bem na planta do pé e no pé esquerdo uma incomoda bolha entre os dedos e parte da planta...Nunca meu pé estragou tão rápido...Cuidei e fiz o 1º curativo para seguir em frente, ainda não havia afetado o ritmo. O que acabou afetando o ritmo foi o calor de 42º na sombra que desidratava nossa carcaça a cada passo.Encontramos uma trilha alternativa e seguimos por ela, nessa trilha tivemos o nosso 1º contato com as urtigas da região. Que estrago !!!Bolhas pipocaram atrás da minha perna, pequenas bolha na mão da Lu e um ou outro arranhão na mão do Marcello e do Bilikis.
Víamos outras equipes buscando abrigo nas poucas sombras do caminho, pedindo água nos casebres e diminuindo o ritmo para não fritar os miolos.
Durante a noite senti o efeito da desidratação tentando me derrubar. Por meia hora fiquei deitado envolto pelo cobertor de emergência com a equipe me ajudando. Tomei uma dose de “Rehidrate” em meio as ondas de calor e frio que se abatiam sobre mim, dormi por vinte minutos, um sono diferente quase espiritual...Naquele momento esqueci as dores nos meus pés e só pensava em sobreviver na prova.
Como que em um passe de mágica voltei. Seguimos por uma trilha estreita rumo a ravina aonde se encontrava o Posto de Controle Virtual. Quando chegamos na 1º área de transição aonde encontramos nossas caixas a equipe me dedou para o médico....traidores...kkkkFui avaliado e ele acreditou que não só o Sol, mas o efeito das urtigas tinham me derrubado.
Cuidei dos meus pés, das feridas e desmaiei por 40 minutos. Estávamos indo para 36 horas de prova e só havíamos parado 30 minutos.Esta foi uma hora crucial, pois eu estava bem machucado e parar não era uma opção em minha cabeça.80 km por uma estrada agradável e com poucas subidas.A velocidade média foi boa e logo estávamos no PC para seguirmos por um novo trekking de + ou - 50 km.
Paramos neste PC para dormir e esperar o Sol baixar. Foi nossa maior parada até então. Duas horas seguidas.Meus pés fritavam e não estava querendo tomar remédio logo no começo da caminhada. Queria deixar para mais adiante.
A Lu arranjou um cajado e segui me apoiando. A cada passo era como se uma faca fosse enfiada na sola do meu pé.Um ritmo geriátrico sem fim...Mais adiante tomei um anti-inflamatório e um analgésico, as dores foram deixadas de lado por algumas horas e o ritmo aumentou. No solo arenoso pequenas criaturas surgiam como se fosse um terreno alienígena.Pequenos escorpiões, micro sapos, joaninhas gigantes, milhares de centopéias e larvas que escalavam seus fios invisíveis rumo ao topo das árvores.
No final deste trekking passávamos por várias fazendas e o efeito dos remédios havia passado.Por nós passaram alguns caboclos montados em seus Jegues..-Moço, quer alugar o Jegue. Pago bem !!!-Não !!Estava com a intenção real de alugar o Bicho, mas ninguém se habilitou...
5º feira e estávamos chegando na penúltima perna. 35 km de bike.Vai ser rápido. Mamão !!! Em no máximo três horas fechamos. 6º de madrugada estaremos cruzando a linha de chegada. E Graças a Deus não iremos mais caminhar. Meus pés agradecem !!!
Pura Ilusão. A perna de 35 km de bike era praticamente toda de areia. Erramos antes de cruzar a Serra e no final também perdemos horas que quase eliminam nossa equipe da prova.Caminhar empurrando a bike com meus pés em frangalhos por uma interminável areia fofa foi uma experiência transcendental. O Marcello passou mal e sofreu bastante nesse trecho. A presença dos espíritos da Caatinga se tornou muito clara nessa hora.

Dai por diante uma nova dimensão se abriu. Não importava mais a dor. Não importava mais nada. O caminho era aquele. Nem bom, nem ruim, apenas o caminho. Passo após passo a dor se transformava em motivação. E parei de rejeitar a situação.O que vi no meio daquela mata perfumada por plantas raras irá ficar para sempre no meu coração.
Chegamos meia hora atrasados para pegar os Ducks. Lutamos para conseguir sair. HOJE A NOITE ESTAMOS EM CASA !!!
Remamos com força e chegamos por volta das 5 horas da tarde na última e aparente simples portagem...Demos a última dormida de 40 minutos.
HA HA HA...Eu de sandália de dedo com meu head lamp quebrado e já anoitecendo...

Não encontrávamos a passagem para o outro lado da barragemAnda dali. Puxa Duck daqui. Eu carregando as mochilas e remos junto com o Marcello que estava com o pé também prejudicado. A Lu e o Bilikis os Ducks.Resumindo. Por 6 horas andamos de lá pra cá feito tontos. Com o raciocínio lento depois de tantos dias de pouco sono. Até dar a louca e tacarmos os Barcos pelo muro de 20 metros da barragem. Isso era 3 da manhã.Entramos na represa e remamos com toda a força pra completarmos a prova. Quando o Sol nascia e comecei a lembrar de tudo que passamos, das divindades que se manifestaram para nos ajudar, chorei feito criança. Grato por superar os desafio. Por estarmos chegando ao fim.
Ás 10:20 da manhã de Sábado cruzamos a linha de chegada com os barcos na cabeça. Muita emoção.

Agora só queríamos um copo de cerveja gelado, comida quente e cama.
Agradeço:
Ao Marcello por ter nos chamado para essa aventura e pela oportunidade do desafio.

Ao Bilkis pela garra e força.
A que não se abalou em nenhum momento, uma guerreira maravilhosa.
A Microcamp que acredita no projeto aventura.
A todos os amigos que compartilharam essa aventura conosco e se mostraram verdadeiros guerreiros.
Ao povo maravilhoso da Caatinga e sua generosidade.As divindades que nos protegeram.Diz o mestre...“O importante não é o destino e sim o caminho.Logo o caminho se torna o destino.”

Abraços,
Ozi
Postado por Osmar Bambini em 16.04.2008





Assista o vídeo com declaração da Equipe S.O.S Mata Atlântica:

http://video.globo.com/Videos/Player/Esportes/0,,GIM814606-7824-EQUIPE+SOS+MATA+ATLANTICA+VENCE+CORRIDA+DE+AVENTURA+NO+NORDESTE,00.html

EQUIPE MICROCAMP NO BRASIL WILD EXTREME....
O mês de abril promete revolucionar as provas longas e expedicionárias de corrida de aventura no país. A Brasil Wild Esportes de Aventura, o circuito de aventura de melhor organização nacional, realizará de 05 a 13 de abril a Brasil Wild Extreme – Corrida das Fronteiras, uma competição que vai atravessar quatro estados do nordeste brasileiro, passando desde a Zona da Mata Pernambucana até as regiões mais áridas da caatinga.A união de duas grandes forças foi fundamental para conceber e viabilizar o evento. “A Brasil Wild fez uma parceria com a Icontent que acrescenta muito. Trata-se de uma empresa com muita experiência em entretenimento e grandes eventos, na questão do tratamento das marcas, na logística e principalmente na mídia envolvida.Famosa por suas usinas hidrelétricas e por ter sido refúgio do cangaceiro Lampião e de seu bando, a cidade de Paulo Afonso - BA, considerada a Nova Zelândia do Sertão, será sede da largada e chegada da corrida. A prova passa ainda por Pernambuco, Sergipe e Alagoas. Os percursos serão muito técnicos, inteligentes e bem calibrados, onde a força, a velocidade e as habilidades serão testadas e só as equipes mais competentes conseguirão terminar.
Com um percurso que pode chegar até 650km, a Brasil Wild Extreme – Corrida das Fronteiras terá provas de bike, natação, canoagem, trekking, técnicas verticais e hipismo. As modalidades estarão espalhadas em trechos de sertão, em plena caatinga, em partes da Serra da Água Branca e Xingó e nos canyons do rio São Francisco, o Velho Chico.“A Corrida das Fronteiras será mais do que uma prova onde a superação dos limites estará sendo testada, ela vai ser uma forma de conhecer o Brasil por uma ótica diferenciada, ver e viver seu povo, e sua gente." “A EQUIPE MICROCAMP INTERNACIONAL” será representada pelo capitão Bilkis Patelli, Marcello Martins (negão) Experiente canoísta e guia de rafting, Osmar Bambini (ozi) experiente competidor, participou de varias corridas de aventura e Luciana Vasconcelos uma das mais fortes e experiente mulher no circuito de corrida de aventura.A equipe pretende realizar o circuito sem erros e completar os 650km com muita união , perseverança, garra, determinação, pois será nossa primeira formação, iremos nos conhecer a cada passo, a cada troca de equipamentos e sempre respeitando o limite de cada um, e nas horas mais difíceis olharemos a beleza do lugar e conseqüentemente entraremos na maior conquista do homem, o autoconhecimento.




ASSISTA O VÍDEO DA EQUIPE MICROCAMP NO BRASIL WILD EXTREME